Como é organizar uma festa Carnaval?

Tiago Melchior entrevista ::
Agrada Gregos, CarnaRara & D.Rete

O Carnaval é talvez o maior espetáculo da Terra. São milhares de eventos ao mesmo tempo, atraindo gente de todos os lugares, pra todos os gostos, na festa mais democrática do mundo.

Temos certeza que você já se perguntou: como funciona isso tudo? De um bloco de Carnaval pra milhares (ou milhões) de pessoas na rua, a festas gratuitas com grandes atrações ocupando espaços públicos, a festas nesse formato com trio elétrico que celebram o amor e a divertidade. Desde os desafios e os trâmites, até o lado criativo e a produção dos eventos.

CarnaRara 2023 no Vivo Rio - Foto: Rara

Tiago Melchior, criador de conteúdo da Ingresse, conversou com 3 agitadores do Carnaval brasileiro: a galera do Agrada Gregos {o maior bloco LGBT+ do Brasil}, D.Rete {o Bloco de Carnaval eletrônico do D-Edge} e do CarnaRara {label carioca que faz um carnaval gratuito em parceria com ninguém menos que o DJ Seth Troxler}.

Abaixo você confere na íntegra as 3 entrevsitas, que contam detalhes por trás da produção desses eventos, histórias incríveis e desafios mais loucos de quem trabalha com a diversão dos outros. A gente é suspeito pra falar, mas esse conteúdo aqui daria um documentário.


Ingresse & Tiago Melchior entrevistam: Gabriel Ribeiro, sócio-fundados do Agrada Gregos

O maior bloco de carnaval LGBT+ do Brasil, e sócio dos blocos da Pabllo (Vittar), Pinga Nimim (Sertanejo) e Pocah.

Nathálida Takenobu, sócia-fundadora no Bloco Agrada Gregos em 2023 no Ibirapuera (SP) - Foto: Agrada Gregos

[Tiago Melchior]

Gabriel, me conta qual que é a sua função dentro do Agrada Gregos?


[Gabriel Ribeiro - Agrada Gregos]

Eu sou o sócio-fundador do Agrada Gregos, junto com a Nathalia Takenobu. 

Nós começamos o projeto Agrada Gregos lá por 2015, bem como uma brincadeira, uma coisa que não tinha pretensão de ser tão grande. E aí, em 2016, a gente fez o nosso primeiro desfile de rua.

E hoje em dia eu cuido um pouco mais de parcerias, marketing, assessoria de imprensa e grandes negociações, assim, locais que a gente vai fazer eventos, que entra um pouco nas parcerias. Mas é basicamente isso, sou sócio fundador, marketing, parcerias.

[Tiago Melchior]

Tranquilo, maneiro. Bom, você já até começou a falar um pouco sobre como tudo começou, mas acho que a gente pode entrar um pouquinho mais nisso. Começou como uma brincadeira, mas já começou no carnaval, certo?

E qual foi a motivação para vocês?

[Gabriel Ribeiro - Agrada Gregos]

Eu e a Nath, mais um grupo de amigos, sempre passávamos carnaval no Rio, carnaval de rua. A gente foi cinco anos seguidos pra lá, e ficamos loucos por causa do carnaval do Rio. Quando a gente descobriu aquilo, que era uma festa muito democrática, todo mundo brincando, se divertindo junto, todo mundo fantasiado, aquilo lá deixou a gente inspirado.

Depois de um tempo indo para lá, pensamos: “poxa, mas dá para fazer aqui em São Paulo, dá para ser tão legal quanto no Rio, e ainda eu vou ter o conforto de dormir na minha cama, não vou precisar pegar uma rodoviária cheia.”  Então, é muito como uma aposta de que o carnaval de São Paulo pudesse depois crescer. A gente, inclusive, escolheu o sábado de carnaval para ser o nosso dia. A gente até brinca, “Sábado é dia de agrada”. Então, hoje é o principal bloco do sábado. 

E antes, quando a gente começou, o pré carnaval e o pós eram muito fortes. A maior parte dos blocos se concentrava no pré e no pós, não tinha muito bloco durante o carnaval mesmo. Tinha, mas não blocos muito grandes.

[Tiago Melchior]

O carnaval de São Paulo não era conhecido pelo carnaval em si.

[Gabriel Ribeiro - Agrada Gregos]

As pessoas passavam o pré aqui e no carnaval iam lá para o Rio, ou para outros lugares, ou descansar. E hoje em dia é o contrário. Hoje, São Paulo virou um ponto mesmo, atrai turistas (entre 20% e 30% do público do carnaval de São Paulo). E a gente participou desse crescimento, desse fortalecimento.

[Tiago Melchior]

Que maneiro. Isso é muito gratificante, eu imagino. E é legal demais de ver.

Nos últimos anos, eu percebi muito esse crescimento do carnaval de São Paulo como algo que acabou virando quase como uma referência da galera, principalmente do interior e de outros lugares, que falam assim, não vou para o Rio, não vou para Salvador, eu vou para São Paulo. Está aqui perto, está aqui do lado.

E acabou virando um negócio que para mim é quase como se fosse um grande festival na cidade inteira, em que não é só necessariamente mais o axé ou ritmos brasileiros também, óbvio, mas eu digo, acabou virando, tem um bloco de hip-hop ali, tem um bloco de eletrônico ali, tem um bloco de determinado tema aqui.

[Gabriel Ribeiro - Agrada Gregos]

Isso é uma característica bem típica do carnaval de São Paulo. Outros lugares não têm tanto essa mesma variedade, essa mesma diversidade de ritmos que aqui.

E eu acho que isso é parte do motivo pelo qual o carnaval de São Paulo foi crescendo, porque assim, você consegue agradar todo mundo, de todos os gostos musicais. Uma pessoa que gosta de rock, antes jamais pensaria em ir para um carnaval. O ideal era fugir. E hoje em dia não, já pode ficar aqui, pode curtir.

[Tiago Melchior]

Muito maneiro mesmo. E me fala uma coisa, com quanto tempo de antecedência, geralmente, vocês começam a preparar um carnaval de rua assim, do Agrada Gregas?

[Gabriel Ribeiro - Agrada Gregos]

Olha, os trabalhos começam a ser mais intensos, a partir de mais ou menos de julho. Então, a gente fica ali uns seis meses, mais ou menos. A gente planeja a nossa temporada, a gente não pensa só no carnaval.

E a nossa temporada que começa com esse evento, que é o nosso pré-carnaval, para abrir a temporada. E aí, depois, a gente tem os vários blocos. Temos o bloco lá em Salvador, no Circuito Barra Ondina, que saímos ano passado.

Esse ano estaremos lá de novo, na sexta (9/02). E aí, no sábado (10/02), aqui em São Paulo, a gente tem o Agrada Gregos. No domingo (11/02), a gente faz o Bloco da Pabllo (Vittar). Faz muitos anos que a gente faz o Bloco da Pabllo, desde sempre, e somos sócios. Na segunda-feira, (12)  a gente faz o Pinga Nimim, do Villa Country, que é um bloco de música sertaneja.

E na terça (13), a gente faz o Bloco da Pocah. Nós também somos sócios deles. Esse é um que vai estrear agora, pela primeira vez, o Bloco da Pocah. E a gente está bem animado com o sucesso desse bloco.

[Tiago Melchior]

Caramba, que legal! Então, vocês partiram de um bloco de carnaval, primordialmente LGBT+, e acabou que virou, mais do que um bloco de carnaval, mas sim uma agência que produz outros blocos e outras festas de outros gêneros, com outros artistas anônimos também, certo? O Agrada Gregos deixou de ser só um bloco.

[Gabriel Ribeiro - Agrada Gregos]

A gente abriu uma agência há uns anos, que é a Agrada Produções. O que a gente faz muito bem é carnaval, principalmente para o público LGBT. É o que a gente mais entende. E o Bloco da Pabllo está bem encaixado com isso. O Bloco da Pocah também. 

O Pinga Ni Mim, que ele é um filho um pouquinho mais diferente dos outros, mas ele surgiu ali um pouco de que eu e a Nat, minha sócia, somos do interior, e a gente cresceu ouvindo muita música sertaneja. Então, a gente viu um potencial aqui em São Paulo. Ainda não existia nenhum bloco de música sertaneja quando a gente começou o Pinga, foi o primeiro bloco de música sertaneja em 2017. E hoje ele é enorme também. 

A gente começou sozinho, fez uns 2, 3 anos sozinhos, aí depois nós buscamos um parceiro, e hoje nós fazemos ele em sociedade com o pessoal do Villa Country, que eles são referência, entendem muito de música sertaneja. Então, foi muito legal ter trazido eles aí para nos ajudar, com o que eles entendem bastante. Sim, com toda certeza.

[Tiago Melchior]

E o festival Agrada Gregos surgiu depois também, certo? Começou no Bloco de Rua Primeiro Gratuito, e aí acabou que vocês cresceram tanto que fizeram um festival.

[Gabriel Ribeiro - Agrada Gregos]

O festival, a gente começou em 2018, muito como uma forma de levantar recursos para poder fazer o Bloco de Rua. Porque o Bloco de Rua você não vende bebida, então você não ganha muito dinheiro, você não consegue ganhar, na verdade. Você ganha só das marcas que te apoiam lá.

Mas é difícil, os custos são muito altos de um bloco, ainda mais se você for dar um bloco para 500 mil, 1 milhão de pessoas, os custos são muito, muito altos.

Armando Saulo (DJ), Nathália Takenobu (sócia), Gretchen (cantora) e Gabriel Ribeiro (sócio) no Bloco Agrada Gregos em 2020 em São Paulo - Foto: Agrada Gregos

[Tiago Melchior]

E como você consegue tornar isso possível? Ok, você está falando do festival, mas tem muito amor envolvido para fazer um negócio que não é necessariamente pelo dinheiro, né?

[Gabriel Ribeiro - Agrada Gregos]

Durante bastante tempo a gente foi reinvestindo tudo o que a gente ganhava, tanto no festival como no Bloco, para ir crescendo e fortalecendo a marca, fortalecendo o Bloco. Então, assim, demorou uns 4 anos mais ou menos para a gente começar, às vezes, ter algum retorno. Então, começamos muito porque a gente gostava mesmo, a gente queria fazer. 

E depois a gente queria ver crescer, queria ver o Bloco cada vez mais, atingir mais pessoas, né?

[Tiago Melchior]

Sim, super entendo. E aí o que eu ia te perguntar é o seguinte, cara: vocês tem o festival e vocês tem o Bloco de rua, o trio e tudo mais. Quais são as principais diferenças, assim, entre você fazer uma festa que é fechada, com ingresso e locação, e fazer uma festa no carnaval, na rua, para geral, aberta?

Quais são os principais desafios que você tem nesse outro formato, sabe?

[Gabriel Ribeiro - Agrada Gregos]

Boa. Antes de entrar na sua resposta específica, só trazer um outro ponto que agora a gente faz também festa fechada todos os dias de carnaval. A gente tem um pós-Bloco, o after dos Blocos, todos os dias de carnaval lá na Áudio Club. Vão ter várias atrações, como Pepita, Tiago Pantaleão, Danny Bond, Pocah. E aí estamos bem animados com esse after.

Porque os Bloquinhos acabam muito cedo, né? Acabam todas as seis horas no máximo da tarde. E aí tá todo mundo bêbado, querendo mais festa, né? Ano passado acabaram os ingressos, assim, foi um sucesso.


E aí, agora então, respondendo a sua pergunta, né? Sobre qual é a diferença desses eventos, como o after, como o festival, que são pagos por um evento gratuito na rua. 


Eu acho que o evento gratuito na rua, assim, é de onde a gente nasceu. É o que a gente gosta de fazer, a gente gosta de ocupar a cidade, a gente gosta de atingir muita gente, a gente gosta de atingir um público bem diverso mesmo, né? Porque mesmo dentro do público LGBT, a gente gosta de ter realmente diversidade dentro dos subgrupos. E na rua isso é mais possível, porque é democrático, é gratuito, vai gente de todas as idades.

Então, eu acho que é muito legal a gente colocar as pessoas para ocuparem as ruas, eu acho que faz até as pessoas se tirem parte mais de uma cidade, uma comunidade. E a gente enxerga até como uma forma, o carnaval como uma forma, como um momento que as pessoas estão um pouco mais abertas para serem mais empáticas, para entenderem melhor as diferenças umas das outras. Então o carnaval de rua, para a gente, ele tem todo esse significado.

Os eventos fechados, lógico que a gente gosta também muito de fazer, e o festival também se tornou nosso principal produto. No festival a gente consegue ter um pouco mais de controle sobre a experiência. Na rua é um pouco mais difícil, porque é muita gente.

Bloco da Pabllo 2023 no Ibirapuera - Foto: G1

No último ano no bloco do Agrada Gregos tivemos mais de um milhão de pessoas, no Bloco da Pabllo também. Então, assim, é muita gente.

E aí é mais difícil ser cuidado da experiência, porque a gente pensa na jornada do nosso usuário, em todos os touchpoints da experiência, e num evento fechado como festival a gente consegue ter mais cuidado com cada um desses momentos, desses touchpoints. E dá para rentabilizar melhor, porque a gente ganha na bebida também. Então, acaba que fica um pouco mais interessante.

[Tiago Melchior]

Com certeza, é bem interessante saber essa diferença. É uma questão que eu imagino mais técnica, mais legal assim, como funciona essa legalização do Bloco? Vocês falam com a prefeitura?

Com quanta antecedência tem que falar com eles? Como funciona esse processo?

[Gabriel Ribeiro - Agrada Gregos]

Sempre eles (a prefeitura) abrem, cada ano com uma antecedência diferente, eles sempre abrem as inscrições. E aí a gente está monitorando o tempo todo, então a gente sabe, a gente conhece muita gente também que faz Bloco. Então a gente fica sabendo quando sai na imprensa, sai na mídia ali que abriram as inscrições.

Eu acho que nos últimos anos a gente fez mais ou menos por agosto, setembro essas inscrições. O último ano foi bem mais organizadinho, porque eles meio que já puxaram, todos os Blocos já tinham saído, dados dos anteriores, e falaram, você não quer mudar nada? Você vai continuar fazendo o que você já está fazendo? Então, beleza. 

Porque o que é muito complexo para a Prefeitura é fazer o match ali entre horários e locais de 500, 600 Blocos, de uma forma que atrapalhe o mínimo possível o fluxo da cidade. Então é um desafio muito grande. A cada carnaval eles terem que repensar todos os percursos, todos os 500, 600 Blocos, é uma coisa de louco. Ees foram muito inteligentes de ter conseguido fazer isso, de aproveitar os dados anteriores para facilitar tudo.

[Tiago Melchior]

Bem legal, bem legal de saber mesmo. E uma outra parada é o seguinte, o carnaval tem milhares de festas acontecendo ao mesmo tempo, está todo mundo ali festejando, você até acabou de falar isso, de ter muita coisa para administrar ali, e como que funciona para uma festa como vocês para conseguir chamar atenção e conseguir atrair o público no meio de milhares de outras que estão acontecendo ao mesmo tempo? A gente tem até um esforço de marketing, de imagem, mas também de comunicação e tudo.

[Gabriel Ribeiro - Agrada Gregos]

A gente tem um posicionamento muito bem definido, muito claro, e trabalha bastante as mensagens que a gente quer trabalhar, a repetição da mensagem, os canais, eu acho que é um pouco a nossa fórmula. A gente sempre, desde o começo, trabalhou bastante com assessoria, no começo eu mesmo mandava e-mail para os jornalistas, saia chamando. E aí depois a gente arrumou uma assessora que faz isso com muito mais profissionalismo do que eu.

Então, a gente sempre deu bastante atenção, a gente sempre fez também um trabalho bem grande de investimento em marketing digital mesmo, para as pessoas ficarem sabendo. 

E também temos muitos amigos Influencers, a gente trabalha junto com eles para a criação de conteúdos. Por exemplo, nesses dias, para essa temporada de carnaval, a gente decidiu ter um tema, que é o tema da nossa temporada, é Atlantis, então Cidade Perdida. Que ela traz ali, tem uma conexão com a mitologia grega também. 

Vinicius Ilha (@viniciusdailha) que é um Influencer que curtia muito essa história de Atlantis, ele produziu um material incrível, contando toda a história de Atlantis, conectando com o Agrada Gregos. Então, assim como o Vinicius, a gente tem vários outros amigos que gostam da festa, e que acabamos desenvolvendo uma amizade, e eles nos ajudam também. Isso também é muito importante para a divulgação do bloco. 

Tem alguns anos que nossos patrocinadores colocam a gente, até naqueles relógios que tem nas ruas, colocam a gente nos banners dos metrôs. Então, isso soma com todo o esforço digital que a gente faz também.

Nathalia Takenobu (sócia) e Aretuza Lovi (cantora) no Bloco Agrada Gregos em 2023 - Foto: Agrada Gregos

[Tiago Melchior]

Sim, com certeza, cara. Acho muito importante. 

E você sabe me dizer também qual é a diferença de você ter um bloco aqui em São Paulo e um trio em Salvador?

[Gabriel Ribeiro - Agrada Gregos]

Em Salvador, o investimento é ainda mais alto do que aqui em São Paulo. Eu acho que aqui em São Paulo, como a gente acompanha já de muito tempo, conhece muita gente, a gente já sabe muito bem o que a gente tem que fazer. Em Salvador, a gente teve que aprender.

A gente chegou lá, e diferente daqui, tem uma série de autorizações que precisa pedir. Então, sei lá, desde uma autorização para a exibição das marcas. Outra coisa que é muito diferente lá, que é assim, lá você pode fazer bloco com corda ou sem corda.

Só que é muito difícil num bloco sem corda se pagar, porque com corda é porque tem abadá, venda de abadá. Sem corda é porque é totalmente gratuito.

[Tiago Melchior]

Corda é uma área que as pessoas que pagam podem ter acesso ali?

[Gabriel Ribeiro - Agrada Gregos]

É. Como lá os custos são mais altos, ajuda muito ter essa área paga, porque soma ali com o que a gente consegue captar de patrocinadores para viabilizar o bloco. Então, nossa, o ano passado foi incrível, foi uma p*** experiência. 

[Tiago Melchior]

Você me falou isso, que os custos são super altos, vocês não vendem ingressos, a única forma que você capta dinheiro é com patrocínio. Como faz dinheiro, quando você está começando um bloco e você não tem a marca que a Agrada tem, como que você faz isso?

Você só gasta, vai pagar um trilho elétrico para fazer as coisas, você vai contratar atrações, você vai trazer um monte de gente. Como que você consegue fazer essas contas se pagarem?

[Gabriel Ribeiro - Agrada Gregos]

É bem difícil, ainda mais considerando a concorrência que tem hoje, a quantidade de blocos. No nosso primeiro ano, não tínhamos patrocinador, a gente pegou R$600 cada sócio, vendemos umas bebidas, vendemos umas coisas escrito Agrada Gregos e é isso, e gastamos ali os R$600 de cada. Hoje em dia já precisa de mais.

Mas também eu acho que nossos amigos, nossa rede de relacionamento acaba fazendo muita diferença. A gente teve muita sorte de ter muita gente legal com a gente ao longo dessa jornada, que foi crescendo junto com a gente, que eu sou muito grato a essas várias pessoas.

Por exemplo, uma que foi muito forte em toda a nossa trajetória é a Lia Clark. A Lia Clark quando começou, tinha lançado a primeira música dela no mesmo ano que o Agrada estreou, um mês antes. Ninguém conhecia ainda a Lia Clark, ninguém conhecia o Agrada, só que a gente era amigo dela também e ela cantou lá.

Ela foi, foi incrível o show, foi incrível. Depois foi muito legal ver ela ao longo dos anos, cada vez mais, fazendo um show assim, incrível. Ela fez agora no sábado (28/01) no festival do Agrada, nossa, que show! Foi animal. Ela fez o mesmo show que eles tinham preparado para o The Town. Que é um show com banda. Nossa, foi incrível, impecável. E aí é muito legal ver a mudança que foi tendo ali ao longo desses vários anos, e ver ela crescendo, é muito bacana.

[Tiago Melchior]

Pô, que massa! Cara, queria agradecer demais por você ter tirado um tempinho nessa agenda corrida de pré-carnaval, deve estar uma doideira por aí. Mas a última coisa que eu vou pedir para você é para você contar em poucas palavras o que é o Agrada Gregos, para quem não sabe, não tem ideia, nunca ouviu falar de Agrada Gregos, o que é esse tal de Bloco Agrada Gregos?

[Gabriel Ribeiro - Agrada Gregos]

Agrada Gregos é o maior bloco LGBTQIAP+ do Brasil. A gente tem o pré-carnaval, que abre a temporada aqui em São Paulo, aí temos carnaval em Salvador, carnaval aqui em São Paulo, pós-bloco em São Paulo. E a gente é um bloco que abraça a diversidade, a diversidade mesmo.

Então a gente quer todo mundo junto, não é um bloco que o pessoal fala “ah, não, não sou gay, não quero ir”. Não, a gente também abraça todo mundo, a gente enxerga no carnaval uma forma das pessoas se aproximarem, das pessoas terem mais empatia umas com as outras, brincarem, todo mundo junto. Então é isso que é o Agrada Gregos.

[Tiago Melchior]

Muito obrigado mesmo, viu, Gabriel. Tamo junto! Muita boa sorte aí nesse carnaval aí todo. 

[Gabriel Ribeiro - Agrada Gregos]

Obrigadão. Obrigado, Thiago e Ingresse. Obrigado pela oportunidade aí. Conte comigo.


Ingresse & Tiago Melchior entrevistam: Francisco Frondizi, sócio-fundador e curador do CarnaRara

Primeira edição do CarnaRara em 2020 no Circo Viador - Foto: Rara

[Tiago Melchior]

Primeiro, obrigado de coração por ter topado participar e por ter tirado esse tempinho.

Me conta antes de qualquer coisa me fala sua função na Rara e mais sobre o que é a festa pra quem não sabe, como você definiria, o que é a Rara?

[Francisco Frondizi - Festa Rara]

Beleza. Cara, meu nome é Francisco Frondizi. Eu sou o fundador, né, sócio-fundador da Rara e faço a curadoria artística também. Tenho dois sócios na empreitada. 

Eu sou fã de música eletrônica há mais de 20 anos, desde 2000, 2001, que eu já ia nas raves ali, nasci no trance. Em 2015, eu voltei pro Brasil numa temporada que eu estava morando fora e voltei com essa ideia clara, assim. Senti falta de ter uma festa desse tipo aqui no Rio. 

Voltei com o nome na cabeça, a curadoria já tava muito na minha cabeça também: eu queria fazer festas com os DJs que ninguém traz pro Rio de Janeiro, principalmente os clássicos, sabe, os grandes criadores do gênero ali, aqueles mais antigos, em lugares que só o Rio de Janeiro tem. 

DiscoRaro no Alto da Boa Vista 2023 - Fotos: Rara

É mais ou menos esse, o super resumo da Rara: colocar DJ absurdos, emblemáticos, inquestionáveis em locações icônicas da cidade, ou lugares que sejam muito a essência do Rio de Janeiro.

E o nome já diz, ela tem que ser rara, então eram só quatro edições por ano, alguma coisa por aí. 

Temos os nossos DJs residentes, que são os Rara DJs, que é o Bernardo Campos e o Felipe Raposo, que inclusive é sócio-fundador junto comigo. A festa passeia entre disco, house, techno e electro, e historicamente, e uma procura sempre de trazer esses dinossauros mesmo, uns caras que pra mim são os grandes DJs que existem (não é um demérito para quem tem menos anos de carreira, como o Seth Troxler, que faz o Carnaval com a gente, eu acho um puta DJ mesmo)

Mas começamos pra 500 pessoas, trazendo o Derrick Carter, Derrick May, as primeiras edições, Kyle Craig, foi bem nessa linha, teve muito DJ americano na nossa história, mas tem Laurent Garnier, Miss Kitchen, Cassie, tem uma galera da Europa também, Henrique Schwarz, Gerd Janson, enfim. E aí, cara, são nove anos de história já, né, começou em abril de 2015, estamos já em 2024, a gente tem 35 edições, alguma coisa assim. E mantendo-se fiel a isso, cara.

Depois criamos outras versões da festa como os barcos, a Disco Raro, que é mais focada em disco (que a gente trouxe François Kay, Danny Krivets, o Ron Trent agora em janeiro), e tem o CarnaRara, que é um outro desses braços aí, que talvez é um pouco do que você quer focar mais hoje, né.

[Tiago Melchior]

Hoje tem mais a ver com o CarnaRara, sim, mas é muito legal saber da história como um todo, é importante, né, pra embasar pra geral. Muito maneira a história, e legal a curadoria, assim, de realmente trazer os ícones, as lendas ali do movimento, quem começou com tudo isso, eu acho muito foda de verdade. Parabéns.

[Francisco Frondizi - Festa Rara]

Não é fácil, hein, porque não vende tanto ingresso quanto os atuais, né, uma coisa que se você for pensar na ponta do lápis ali, na planilha, no business, com certeza DJs atuais vendem muito mais do que o Kenny Dope, sei lá, umas coisas assim que a gente traz, sabe.

E aí, o crédito, a gente ganhou crédito ao longo do tempo, a entrega da festa, pô, é sempre os lugares maravilhosos, o público legal, a parada funciona, luz, qualidade do sound system, etc. Então com anos disso, tem uma galera que já vai sem nem saber quem é o DJ, entendeu, não vai só por isso, vai porque é Rara.

Isso já existe muito. Ela confia na curadoria e na experiência, né. Isso, na festa, na experiência, exatamente. Inclusive, vai também uma galera que não é só aficionada do eletrônico, mas sabe que a experiência vai ser legal.

[Tiago Melchior]

Pô, que maneiro, de verdade. E quando foi que começou com o CarnaRara? Quando vocês se associaram com o Carnaval? Foi logo no início?

[Francisco Frondizi - Festa Rara]

Não. O CarnaRara começou em 2020. E a gente ia fazer uma festa no Museu do Amanhã, lugar onde hoje em dia tem um milhão de festas, né.

Seria a primeira festa lá. Mas na época o prefeito era o Marcos Crivella, que não era muito adepto a esse tipo de coisa, e dez dias antes ele cancelou o alvará. Aí a gente foi pro Circo Voador, que também é uma locação eletrônica, mas assim, encolheu muito, né. Era pra ser uma festa gigante e acabou no Circo Voador. Foi maneiríssimo, realmente. É uma casa de cultura emblemática do Rio, não tem o que falar. E foi mágico, assim, sabe, aquela festa que rolou a magia na primeira.

Então começou em 2020, a pandemia, por motivos óbvios, não deu pra fazer. E a segunda edição foi ano passado, 2023. Então CarnaRara tem duas edições, uma no Circo Voador e a outra no Vivo Rio. Esse ano vai ser no Museu de Arte Moderna. Não somos precursores nisso, de ter festa de música eletrônica no carnaval, já havia outras várias que faziam isso há muito mais tempo. 

Seth Troxler no CarnaRara 2018 no Circo Voador - Foto: Rara

Mas o CarnaRara nasceu de uma amizade minha com o Seth Troxler.  Ele veio pro Brasil num carnaval tocar, fazer turnê, e foi num bloco de carnaval no Rio e o cara teve uma epifania, ele chorava, o cara teve uma emoção diferente e ele falou pra um amigo em comum: “cara, eu preciso tocar numa festa de carnaval no Rio de Janeiro, não quero saber. E a festa tem que ser de graça. Porque é isso.”

E aí esse amigo incomum, que é o Fred, nos conectou. A gente teve uma relação boa, ele viu a história da festa, os DJ's que a gente trazia, as fotos, as locações, e pirou. Então ela realmente é uma festa que a gente faz junto, sabe, o Seth Troxler não é bookado pra tocar na minha festa, ele faz junto comigo. Traz vários amigos de fora, ele opina na locação, a gente faz call o ano inteiro, sabe, ele super se envolve no negócio, assim.

E aí essa é a história. De um amor pelo carnaval, sabe. A força motriz ali, o ponto de partida do negócio é essa, é a magia que o carnaval de rua do Rio de Janeiro tem. E o Seth entrou nessa e aí ele faz a curadoria dos DJs internacionais junto comigo, eu opino, mas é ele que escolhe mais, ele que liga, convida os caras, sabe, e eu faço mais a dos nacionais. E ele faz questão que tenha vários DJs nacionais pra gente, né, dar aí uma vitrine pra cena local. 

[Tiago Melchior]

Pô, que demais, então é como se o Seth Troxler fosse sócio de vocês nessa festa, assim.

[Francisco Frondizi - Festa Rara]

Sim. É exatamente isso.

[Tiago Melchior]

Pô, que demais, cara. Essa parte eu não sabia não e acho muito foda mesmo. Eu ouvi dizer aí também que no CarnaRara, você falou que tem que ser de graça.

É de graça o CarnaRara ou ele tem uma parte de graça, uma parte paga? Como funciona isso?


[Francisco Frondizi - Festa Rara]

Boa. Nesse desejo dele, tem que ser de graça, eu topei. Aí você vai ver pra fazer uma produção ao nível que a Rara quer, ele quer, a gente tem que estar numa locação. Você olha a planilha ali e se for só de graça, o negócio não se paga, entendeu? Então como é que a gente pensa, qual é a saída que a gente vai encontrar pra gente não deixar essa ideia morrer?

A gente criou uma espécie de um crowdfunding mesmo, na primeira edição, e vários amigos dele compraram quatro cotas, sabe, é tipo. Mas pra gente conseguir vender mais, a gente tem que dar uma vantagem para quem comprar. E aí, nessa, a gente criou um backstage. Assim, não tem bebida liberada, a pessoa tem vantagem de estar do lado do palco, num lugar melhor de ver o show, tem os banheiros exclusivos, uma entrada que é só pra eles, tem uma praça de alimentação com um pouco mais de opções. 

Então é um crowdfunding com vantagens. E aí a pista em geral é de graça, 90% da festa é de graça, ou mais, em todas as edições.

[Tiago Melchior]

Basicamente, a pessoa de graça vai lá ver Seth Troxler, DJ Tênis, Denis Cruz, que isso?

[Francisco Frondizi - Festa Rara]

Yes, Chloe, é isso. É isso que eu acho, o diferencial, é o “power to the people”, sabe, e eu acredito nisso. 90%, 95% da galera tá indo de graça, é só você ficar atento, no dia que lança as cortesias, entrar lá e emitir seu QR code na Ingresse, e vai entrar, entendeu?

E esgota rápido, aí a gente faz levas, né, cada segunda-feira a gente abre uma nova leva, e se você lança de cortesia uma outra dificuldade, é que você tem que lidar com uma porcentagem de no-show enorme, né, a gente lançou o evento em dezembro, o cara vai emitir a cortesia dele, chegou em janeiro, ele vai comprar uma viagem pra outro lugar, não vai mais, tá doente...

[Tiago Melchior]

Você faz a festa em locações, certo? Não é na rua, é uma festa fechada, mas no carnaval.

[Francisco Frondizi - Festa Rara]

É, é fechada. Sim, sim. Essa agora é no Museu de Arte Moderna, né? Que é um lugar que, historicamente, faz o Rio Carnaval. Durante o carnaval tem cinco festas, de vários segmentos totalmente diferentes, e a estrutura dele já está montada, com tapume em volta, cercamento, controle de portaria, e só entra quem tem o QR Code.

Mesmo que seja de graça, você tem que entrar lá na Ingresse e emitir um QR Code. Existe um controle. Até por questão de segurança, né?

lembrando que as cortesias saem em lotes e esgotam rápido, mas você sempre pode comprar um ingresso apoiador e ter garantia de entrada e acesso a banheiros exclusivos, melhor visão do palco, acesso direto ao evento e maior conforto.

[Tiago Melchior]

E o que você sente, assim, de maiores diferenças e desafios, assim, nessa comparação entre fazer uma festa numa data comum, um evento padrão, e fazer uma festa no Carnaval? Quais são esses desafios do Carnaval e as diferenças principais?

[Francisco Frondizi - Festa Rara]

É diferente. Vou começar com uma vantagem, que é o Rio de Janeiro está lotado de gente do mundo inteiro. E cada vez mais gente gosta desse tipo de música, né? No Resident Advisor lá, a gente foi escolhido como um hit aí do meio, então isso é uma ajuda. 

Agora, os desafios são muitos, porque pelo mesmo motivo que tem muita gente, tem muita concorrência. Tem os blocos de rua, que assim, são incríveis. Quem sabe estar no lugar certo ali é das melhores festas do mundo e é gratuito, então tem... Perde um público pra isso. Tem a Sapucaí, que é o maior show da Terra, digamos assim, e muita gente vai pra lá também. Tem muitos camarotes, e hoje em dia esses camarotes investem em DJ de música eletrônica também. Tem várias outras festas mais parecidas com a Rara, festas fora do Rio, sabe, mais ou menos do mesmo segmento que estão aqui. Então é uma pulverização de público, eu diria que é um desafio.

O aluguel dos espaços é mais caro, todos os fornecedores de som, luz, qualquer equipamento que você vai procurar, é indispensável, vai ser mais caro por lei de oferta da procura mesmo. Tá todo mundo querendo alugar som, cerca, banheiro químico, tudo. Acho que falei vários dos mais relevantes, com certeza tem mais uns 20.

[Tiago Melchior]

Pra gente encerrar me conta com que antecedência você começa a preparar o CarnaRara?

[Francisco Frondizi - Festa Rara]

Cara, a gente janta no dia seguinte da festa eu e o Seth Troxler. A gente emenda da festa em bloco, é um combinado nosso, a nossa festa acaba assim... E aí dá dois dias, a gente sai pra jantar e já pensa no ano que vem, a parada começa na hora. 

A gente já começa a viajar em line-up, lugar (que é um desafio). Inclusive estamos realmente esperançosos de que esse de agora, o Museu de Arte Moderna, vai super agradar a todos e vai virar tradição. Então é isso: começa no dia seguinte, bicho.

CarnaRara 2023 no Vivo Rio - Foto: Rara

É o maior evento do calendário da Rara, sabe, é o nosso maior evento do ano disparado. Na Rara normal vai duas mil pessoas, esse evento dá quinze mil pessoas.

[Tiago Melchior]

Quinze mil pessoas, caramba, cara. Yes. Doideira.

Bom, muito legal, de verdade. Obrigado pelo seu tempo!


Ingresse & Tiago Melchior entrevistam: Igor Rodrigues, Head de Marketing do D-Edge, D.Rete e Surreal Club

Bloco do D.Rete com Nicole Moudaber em 2018, na rua. - Foto: D-Edge

[Tiago Melchior]

Antes da gente começar, quem é você e o que você faz no D.Rete?

[Igor Rodrigues - D-EDGE]

Meu nome é Igor Rodrigues e eu sou Head de Marketing do D.Rete, D-Edge e Surreal Park.

[Tiago Melchior]

Perfeito. Você está há quanto tempo na D-EDGE.

[Igor Rodrigues - D-EDGE]

Cara... Acho que em abril vai fazer um ano. Não é muito tempo não. Mas eu já trabalhei com o Renato (Ratier) há muito tempo atrás. Na época eu era o manager de alguns artistas, da Blancah, inclusive. A gente tinha essa parceria dos artistas serem agenciados pela The Agency.

[Tiago Melchior]

Conta pra gente o conceito do D.Rete? Vocês chegaram a ser um bloco de rua e esse ano vai ser no Memorial da América Latina, certo? Então é um evento fechado na época do carnaval, certo?

[Igor Rodrigues - D-EDGE]

Isso, no Memorial da América Latina. Mas ele já teve edições que foram na rua mesmo. Os primeiros anos foram na rua e a última edição, que foi em 2019, antes da pandemia, foi feita no Memorial da América Latina. 

A ideia de fazer no Memorial foi basicamente para trazer um pouco mais de conforto pro público. Ele tem uma arquitetura bem interessante, até mesmo inspiradora, eu diria. Então, eu acho que o lugar, por si só, também acaba sendo uma atração, sabe?

[Tiago Melchior]

Maneiro, pô. E ele, por ser aberto, por ser quase como um parque, uma praça ali, ele ainda passa essa ideia de carnaval, né? Esse lugar de rua ainda.

[Igor Rodrigues - D-EDGE]

Exatamente. E por se tratar de um memorial da América Latina, né? Tem esse lance da América Latina, de liberdade.

E, querendo ou não, o carnaval tem esse mote de... As pessoas ficam livres para serem quem elas quiserem ser. Então, acaba tendo esse link também, que eu acho bem bacana.

[Tiago Melchior]

Sim, que legal. Mas você sabe me dizer as principais dificuldades que se tinha em ter o bloco na rua mesmo, né? Tipo, como um carnaval, com um trio elétrico, etc, em comparação com fazer num lugar fechado, sabe?

[Igor Rodrigues - D-EDGE]

Sim, é... Bom, acho que a primeira questão é mais a burocracia com relação à prefeitura. Obviamente, se você fizer todos os trâmites e tiver boa vontade de todos, você, óbvio, consegue as autorizações, etc. Mas, querendo ou não, é um processo bem trabalhoso e longo.

E também, acaba que nas ruas muitas vezes, não é possível se dar condições adequadas de banheiro para todo mundo. Então, tem um lado positivo, mas tem um lado negativo que acaba pesando bastante.

Então, a ideia é tentar passar o máximo de conforto para o público. E por mais que seja um carnaval de rua, as pessoas querem ter um pouco de conforto. Então, acho que, nesse sentido, a mudança para o Memorial da América Latina é bem positiva.

[Tiago Melchior]

Sim, que maneiro, cara. E me fala uma coisa também, que o carnaval vem, a princípio, como uma festa de axé, de sonoridades brasileiras, de samba. Ele é muito reconhecido por isso, né?

Daí vem o D-Edge e fala assim: “vou botar techno tocando, para quem gosta de música eletrônica, nessa época aí.” Como você enxerga isso? Como foi essa ideia lá no começo? 

Hoje em dia está ficando mais comum ter música eletrônica no carnaval de SP. Mas vocês começaram ali quando não tinha tanto, né?

[Igor Rodrigues - D-EDGE]

Sim, com certeza. Acho que um dos pontos que ligam a música eletrônica ao carnaval, acho que é a energia. A música eletrônica tem muita energia.

Por mais que você tenha sonoridades mais darks, mais alegres, mas de uma maneira geral, a música eletrônica traz muita energia para o público. Nesse sentido, ela vai ao encontro com a energia do carnaval, que é um ritmo alegre, contagiante. As pessoas vão para dançar, e na música eletrônica também, a galera vai para curtir, para dançar.

Então acho que nesse sentido, o D-EDGE tem uma energia muito forte. E a ideia foi trazer essa energia para fora, né? Aliado com a energia do carnaval. Então acho que é uma junção que eu diria perfeita. É um clima leve, alegre, as pessoas estão dispostas a se jogar, a se divertir.

E eu vejo que a música eletrônica, a cada ano, está tendo um crescimento bem significativo. Não só no mercado brasileiro, mas no mercado internacional. Se vê muito hit tocando no rádio. Então isso é bacana, que querendo ou não, atrai pessoas para o nosso segmento.

O cara entra ouvindo, digamos, um comercial, ou algo, por exemplo, uma Peggy Gou toca na rádio direto. E no final das contas, essa pessoa entra, e daqui a alguns anos, ela pode estar ouvindo um techno, um Dex DJ, alguma coisa nesse sentido, sabe? Então isso é legal. Você traz novas pessoas através dessa energia que o carnaval proporciona.

[Tiago Melchior]

Você enxerga que o D.Rete traz um público diferente da D-Edge de forma geral?

[Igor Rodrigues - D-EDGE]

Eu acho que muito do público já é parte do DNA da D-Edge. São clubbers, galera que realmente gosta de música eletrônica.

Mas como é um evento muito grande, um evento para mais de 6 mil pessoas, certamente você acaba atraindo um público às vezes curioso, às vezes que quer, de fato, sentir como é uma pista de dança de música eletrônica. Então, como é um número significativamente alto, mais de 6 mil pessoas, certamente a gente vai atrair pessoas que não são do segmento eletrônico. 

Mas eu diria que a grande maioria é do segmento curto e música eletrônica, no que diz respeito às atrações, né? A gente está indo para um lado mais techno no D.Rete, com a Indira Paganotto, que é uma artista que está em ampla ascensão. Gigante! E a Anetha também, que é um techno bem reto. Em termos de atrações, a gente está bem legal.

Bloco D.Rete 2018 - Foto: D-Edge

[Tiago Melchior]

Está forte demais!

[Igor Rodrigues - D-EDGE]

Tem os nacionais, o Ratier vai fazer um back to back com Eli Iwasa.

[Tiago Melchior]

Duas lendas!

[Igor Rodrigues - D-EDGE]

Sim, pô! Vai ser incrível! E também tem duas artistas novas que também vão estar fazendo um back to back, a Betriza e Bllack Rose, que também tocam tecno. Então, tem um line-up bem consistente, eu diria.

[Tiago Melchior]

Pô, que legal, cara! Então, é isso que é muito maneiro de ver, você pegar um festival de música eletrônica, né? Praticamente, assim, nomes grandes pra caramba, só que acontecendo durante o Carnaval.

E acho que aí você acaba emprestando essa vibe, a pluralidade que o Carnaval tem, a liberdade que o Carnaval traz, mas para um cenário de música eletrônica que tem isso, mas que ali acaba tornando ainda mais festivo, né? Eu imagino.

[Igor Rodrigues - D-EDGE]

Total! E um detalhe que vai deixar o evento mais interessante é o fato de os artistas estarem se apresentando num ônibus que vai ser como se fosse um artcar, sabe? Então, o ônibus vai ser customizado de acordo com o Carnaval.

Então, como se fosse um carro de escola de samba, eu diria. Então, vai ser divertido tanto a parte sonora dos DJs musicais, como a parte visual do evento, né? Então, você tá ali curtindo o evento, vendo o DJ tocando num carro todo customizado, num espaço inspirador. Cara, vai ser, assim, uma experiência bem legal.

[Tiago Melchior]

Pô, que maneiro, cara! Isso é legal, porque realmente é isso. É um Carnaval de rua, só que num lugar fechado, pra vocês terem mais controle sobre o que vocês estão entregando ali, em termos de conforto e de entrega, né?

[Igor Rodrigues - D-EDGE]

A parte de segurança também, querendo ou não, é importante ter essa parte de segurança. Acho animal o Carnaval de rua, mas, querendo ou não, você tem algumas limitações da parte de segurança, você não consegue ter controle tão bom. E ali no Memorial, a gente, com certeza, tem um pouco mais de controle nesse sentido.

[Tiago Melchior]

Que legal, cara! E num momento em que você tá competindo, entre aspas, com muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, muitas festas na rua, muitas coisas de graça, qual o desafio de marketing, de venda, de promover um evento, num momento em que tá todo mundo fazendo evento, e muitos deles de graça.

[Igor Rodrigues - D-EDGE]

Sim, é um desafio gigantesco. Gigantesco. É uma época que também muita gente quer ir pras praias, pro litoral, né?

Mas, como São Paulo é uma cidade muito grande, tem público pra todos os gostos, e acho que um dos maiores diferenciais pra gente poder tracionar em termos de vendas, público, acho que é o fato das atrações, são atrações bem sólidas, com uma demanda bem legal, o público tá querendo ver as artistas, a Indira tá uma crescente absurda, ela é uma artista, eu diria que única, ela é uma artista de tecno, mas ela mistura um psytrance nas músicas dela, é algo só ela realmente tem feito, assim, de uma maneira bem inovadora, eu diria.

A Neta é uma baita artista, acho que no quesito line-up, acho que é algo que a gente tá indo bem nesse sentido, que nos dá um certo, não digo conforto, mas nos dá um norte bem legal com relação à expectativa de público, fora outras ações, a ideia do Artcar também, acho que é algo inusitado também, que tem um certo brilho pro evento.

[Tiago Melchior]

Sim. Vou te fazer uma última pergunta pra gente finalizar, se você tem alguma dica, um conselho aí pra outros produtores de eventos e festas que têm interesse em fazer uma festa no carnaval nos próximos anos e tudo mais, o que você acha que esse cara precisa saber antes de fazer isso?

[Igor Rodrigues - D-EDGE]

Eu diria que não tem uma fórmula mágica, se tivesse seria muito lindo, mas o que eu vejo de principal pra quem quer fazer ou até mesmo entrar no mercado é criar sua comunidade. Comece criando sua comunidade, criando não é o público que vai ditar o caminho. Então, você tem uma comunidade, não precisa ser de muitas pessoas, mas que sejam pessoas engajadas, que vestem camisa, cara, isso faz uma diferença absurda, que dá uma atração em várias frentes do que você for fazer do teu evento.

E obviamente, primar por um line-up conciso, ter fornecedores confiáveis, enfim, é uma equação bem complexa, eu diria, mas acho que comunidade, curadoria musical, fornecedores confiáveis, acho que tendo esses três aí você já tem um bom caminho.

[Tiago Melchior]

Perfeito, que legal, obrigado mesmo.

[Igor Rodrigues - D-EDGE]

Eu que agradeço, e um detalhe importante é que o D.Rete é um evento que vai acontecer no Memorial da América Latina, no dia 11 de fevereiro, só que no dia 8 ao dia 11 as festas também vão estar ocorrendo no clube, no D.Edge.

E assim, o line-up também do clube está bem legal, tem o Frico, que é um DJ da Romênia, a galera do Minimal conhece bastante, Sasha, que é um dos maiores DJs do mundo, muito respeitada ainda da música, o Sasha, DJ de Projected House. Entre tantos outros DJs, Cruz, It's Standard, Malone, Prank, vai ter DJ de alguns países aí, que vão estar tocando no Carnaval, então acho que trazer essa miscelânea cultural de estilos também pro Derrete vai ser muito interessante, além do Derrete, com a Neta e a Indira.

[Tiago Melchior]

Que legal, imagino que os gringos também devem ficar doidos pra vir pro Carnaval, por mais que não seja o Carnaval estereotipado do brasileiro. 

[Igor Rodrigues - D-EDGE]

Exato. Tem uma magia no Carnaval, na pista de dança, que você vai num clube durante o ano, é legal, mas você vai no Carnaval parece que a pista, os caras estão com mais energia, a galera quer se jogar mesmo.

[Tiago Melchior]

É, tem essa. Agora pra encerrar de vez, o que é o D.Rete?

[Igor Rodrigues - D-EDGE]

O D.Rete basicamente é o bloco de rua da D.Edge, com a energia do clube. O bloco D.Rete traz a inconfundível energia do D.edge para o Carnaval. 

[Tiago Melchior]

Que legal, perfeito. Obrigado por participar e conversar com a gente.