Mulheres que estão revolucionando a música e o entretenimento no Brasil e no mundo

Em cima do palco ou nos bastidores, as mulheres estão transformando o universo do entretenimento e da música. Com talento e conhecimento, criando ambientes inclusivos e diversificados, onde as vozes femininas têm espaço e reconhecimento. Conversamos com Eli Iwasa {DJ, produtora e empresária} e Juliana Cavalcanti {produtora de eventos} para saber como elas estão deixando a sua marca na indústria, além de suas inspirações e momentos memoráveis de suas carreiras.

Eli Iwasa

DJ, produtora, empresária e uma das principais vozes femininas na cena eletrônica no Brasil. Em mais de 20 anos de carreira, já se apresentou em grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza, Time Warp, Warung e DGTL, além de turnês internacionais pelo mundo todo.

Além da música, decolou em outra frente que marcou o início da sua trajetória: o empreendedorismo. Hoje está à frente dos clubes Caos, Gate 22, Pista 2002 e Galeria 1212, todos em Campinas.

Ju Cavalcanti

Founder e CEO do Noronha Weekend.

Com mais de 19 anos de experiência, já produziu eventos para mais de meio milhão de pessoas, sempre com o objetivo de a cada evento que faz, promover o dia mais especial para as pessoas. É idealizadora do projeto Noronha Weekend, que já está indo para a sua 5ª edição e leva para a ilha experiências em conexão com a natureza e shows comandados por grandes artistas brasileiros.


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Conte um pouco sobre você e sua trajetória em eventos

[Eli Iwasa]

Sou DJ, sócia de algumas casas em Campinas, dos clubes Caos, Gate 22, Club 88. A gente tem uma pista de skate, chamada Pista 2002. Galeria 1212, que é um espaço multifuncional, tem estúdio, tem rádio, nossos restaurantes. E eu também tenho a minha carreira de modelo.

Clube Caos recebeu a Festa Xxxperience em Junho/2023

[Ju Cavalcanti]

Eu comecei a minha trajetória nos eventos quando fui fazer a minha primeira pós no Rio de Janeiro. Tinha acabado a faculdade de Administração, tava morando no Rio e passei um ano e meio lá fazendo uma pós de Administração na PUC. E aí eu comecei a ir para umas festas em Vargem Grande, super diferentes no meio de paisagens incríveis, um negócio surreal de lindo com música eletrônica, que eu sempre amei. E aí foi quando começou a desenvolver, a ver aquelas pessoas sendo atendidas. Óbvio que eu já via evento em Recife, mas não desse estilo open air e aí era uma questão muito assim de comunidade, de atendimento, umas coisas diferentes e isso me encantou. Eu sempre fui uma pessoa de muito me relacionar com grupos, com pessoas, com atendimento ao cliente, então essa modalidade de música eletrônica, que era o psy trance na época, eram raves, não existia em Recife e foi quando eu comecei a minha trajetória com eventos.

Aí eu comecei na rave, depois entrei no mainstreaming da música eletrônica, fiz duas vezes David Guetta, Armin van Buuren, Hardwell, Dimitri Vegas e Like Mike, todos os caras dos Top 10 da DJ Mag eu fiz. Fiz evento aqui em Fortaleza e sempre muito específico em música eletrônica. Mas o mercado foi mudando, surgiu a oportunidade de fazer Noronha, foi engraçado inclusive do jeito que começou. Eu tava em um avião vindo pra São Paulo pra fechar um negócio e um amigo meu que tem uma rede de pousadas lá perguntou se eu não queria produzir, ele me ajudaria na logística e foi quando realmente surgiu o Noronha Weekend. Ele me deu esse apoio operacional lá e eu comecei o evento. Era um evento menor e hoje já tá em outra proporção, a gente tá indo pra 4ª edição, já tá bem maior e mais estruturado.

Galeria de Fotos :: Noronha Weekend

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Qual é a sua motivação ou paixão?

[Ju Cavalcanti]

A minha motivação realmente é esse questão do servir, de atender, eu quero que a pessoa vá pra minha festa e seja a melhor festa que ela já foi na vida dela, que ela crie memórias afetivas com os amigos delas, com o namorado, marido, quem seja, e que leve isso pro resto da vida.

[Eli Iwasa]

Desde muito nova eu sempre soube que queria trabalhar com música, não imaginava que seria DJ, mas foi desde sempre uma escolha trabalhar com algo que me fizesse feliz e que eu fosse apaixonada. Não sei trabalhar de outra maneira, só sei fazer aquilo que realmente me emociona e pela qual sou apaixonada. Sempre falo que mais do que uma escolha, a música é um chamado, a gente não escolhe, a música que escolhe a gente e eu tenho plena consciência do privilégio que é poder viver desse jeito e em ter tanta realização através do meu trabalho.

“Sempre falo que mais do que uma escolha, a música é um chamado, a gente não escolhe, a música que escolhe a gente e eu tenho plena consciência do privilégio que é poder viver desse jeito e em ter tanta realização através do meu trabalho.”

Eli iwasa | Universo Paralello Festival 2023 - 2024 | By Up Audiovisual

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O que seus eventos têm que são únicos?

[Eli Iwasa]

Eu acho que o que os meus eventos têm de únicos é justamente essa mistura de públicos, uma diversidade muito grande de pessoas e de estilos musicais. Nunca fui focada em uma coisa só, seja nas minhas casas ou na minha carreira de DJ e essa abrangência e diversidade são reflexo da minha bagagem cultural, dos meus interesses, de como eu gosto de viver a vida e ela acaba refletida em tudo que eu faço, em todos os aspectos do meu trabalho.

[Ju Cavalcanti]

O que que eu posso dizer de único nos meus eventos? Eu gosto muito dessa questão da comunidade, eu gosto de envolver as pessoas no evento, eu gosto que elas co-criem comigo, então em todos os meus eventos a gente sempre teve muita participação do público, eu sempre fui uma pessoa que esteve muito de frente às redes sociais, vídeos, desde a época do Orkut a gente sempre criava os fóruns: “quais artistas vocês querem ver? O que pode melhorar na festa?” Então eu acho que atendimento ao cliente é o mais importante e o maior diferencial da gente. Hoje tem coisas que a gente não tem como controlar, como problemas climáticos, alguma coisa que aconteça que fuja do controle do planejamento, que isso possa realmente acontecer especificamente em Noronha, que já teve. Mas acho que esse atendimento, esse carinho, esse cuidado, é o diferencial dos meus eventos.

“O que que eu posso dizer de único nos meus eventos? Eu gosto muito dessa questão da comunidade, eu gosto de envolver as pessoas no evento, eu gosto que elas co-criem comigo, então em todos os meus eventos a gente sempre teve muita participação do público.”

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Quem são as mulheres que te inspiram? Dentro e fora do mercado do entretenimento.

[Eli Iwasa]

Eu tive a sorte de ter mulheres que foram muito importantes na construção de quem eu sou e do que eu faço. Então, o meu primeiro trabalho realmente importante dentro de um clube foi no Love Club em São Paulo, que era uma casa comandada por uma mulher e que tinha mulheres em cargos importantes. Eu acho que de alguma maneira isso me inspirou e me influenciou por toda a minha carreira, era algo bem raro de se ver há mais de 25 anos, que é a Flávia Ceccato, que me deu essa oportunidade e me permitiu aprender tanto. Tudo que eu sei hoje, eu sempre falo que aprendi a maioria das coisas dentro do Love.

Eu sempre enxerguei outra mulher que é a Georgia Taglietti, que ela tá à frente do Festival Sonar em Barcelona. Ela é uma das figuras chave dentro do festival, curadoria, e que sempre foi muito especial, então pra mim a Georgia sempre foi esse exemplo do tipo de profissional que eu gostaria de ser e do tipo de trabalho que eu gostaria de desenvolver.

E tantas mulheres que hoje fazem parte do meu time também são grandes inspirações, desde a minha manager - Priscila, até as minhas bookers, eu to cercada de mulheres maravilhosas, que são fonte constante de inspiração pra mim.


[Ju Cavalcanti]

Mulheres que me inspiram: Luciana Villas Boas, do Camarote Salvador, Monique Dardenne (Co-fundadora e Diretora do @womensmusicevent), Fátima Pissarra (CEO @music2mynd), Juliana Ferraz (sócia da Holding Clube), tem tantas maravilhosas. Denise Klein (Diretora na Plusnetwork), Mari Pinto, Flora Gil e Preta Gil.

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O que é representatividade pra você? E o que pode ser feito para promover um mercado mais representativo?

[Eli Iwasa]

Representatividade pra mim é sobre ter as minorias sociais ocupando posições de poder, tendo visibilidade e principalmente oportunidades. Quando se fala na falta de representatividade é sobre essa desigualdade de oportunidades.

Quando eu penso em representatividade, ela vai muito além de simplesmente montar um line-up diverso, ela tem que ser estrutural, tem que ser uma mudança dentro das empresas, dos promoters, das organizações. Ter people of color, pessoas periféricas, pessoas da comunidade LGBTQIAPN+, ter mulheres em posições de poder.

E o que a gente vê muito, é que quando tem essas pessoas nessas estruturas em lugares em que elas podem tomar decisões, naturalmente o ambiente vai ser mais diverso, mais inclusivo, os line ups vão ser mais diversos e mais inclusivos de uma forma muito genuína.

“Representatividade é a gente poder dar oportunidade aos grupo minoritários de participarem ativamente do mercado. Eu acredito que quanto mais mulheres você puder envolver, negros, LGBTQIAP+, dar voz a essas pessoas para que elas possam mostrar o trabalho delas, isso seria inclusão de representatividade.”

- Ju Cavalcanti

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Como você entende o mercado de eventos hoje? Como as mulheres estão ajudando a moldar o futuro dele?

[Eli Iwasa]

Acho que uma das coisas mais legais de trabalhar com eventos é que eles são um retrato, um registro do momento que a gente vive, ele reflete não só o mercado cultural e artístico, mas principalmente o mundo, a sociedade e as transformações que acontecem nele.

Como eu falei, a mudança, a transformação, tem que acontecer de dentro pra fora, então, quando você dá oportunidades e traz as minorias pra dentro da sua estrutura em posições em que elas podem tomar decisões, essas transformações acontecem de forma muito mais honestas, genuínas, e de uma maneira muito mais natural. E ela não se reflete só em um line up, ela começa realmente a acontecer em todos os setores da empresa e do que é feito.

[Ju Cavalcanti]

O mercado de eventos hoje passou pela pandemia e eu acho que deu uma peneirada, vamos dizer assim, selecionou os melhores produtores, os que tinham mais base para continuar no mercado, tirou os aventureiros. Os homens normalmente eles estão em liderança, são os proprietários das empresas, mas a grande maioria dos braços direitos, das pessoas que estão na retaguarda, são as mulheres. A gente faz uma coisa muito planejada, detalhada, estruturada e com amor no processo. O lado da mulher na produção de eventos é diferenciado.

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Como você acha que podemos conquistar um cenário profissional no entretenimento mais igualitário no Brasil?

[Eli Iwasa]

O mercado mudou muito, desde nível de profissionalização, até o papel da mulher dentro desse mercado. Ainda é um mercado predominantemente masculino, mas as mudanças vêm acontecendo, não só nos palcos. A gente vê hoje, vou falar de música eletrônica, alguns dos maiores nomes da música eletrônica hoje são mulheres, ainda tem uma discrepância de cachês e de oportunidades. A gente vive situações de machismo e de misoginia, mas em mais de 25 anos de carreira talvez seja um dos momentos mais favoráveis para as mulheres dentro do mercado e nos bastidores também. A gente vê cada vez mais mulheres ocupando um papel de protagonismo dentro das grandes produtoras de eventos, em grandes produtoras executivas, curadoras e eu sempre falo que tem uma diferença muito grande quando tem uma mulher ocupando esses espaços.

“Posso falar pela minha experiência própria, eu tenho sócios homens, e eu sei que o meu papel vai muito além de ser sócia ou diretora artística das casas, meu papel mais importante é promover esses diálogos, trazer atenção pra essas questões e de provocação mesmo, provocar as mudanças e as transformações que a gente quer ver não só internamente nas casas, mas no mundo.”

[Ju Cavalcanti]

Esse cenário mais igualitário realmente é complicado, são poucas pessoas que abrem oportunidades para as mulheres brilhares. Existem muitos produtores que realmente botam a mulher lá em cima, ela é minha parceira, minha sócia, promovem, mas muitos não. Então é um trabalho de formiguinha, cada vez mais contratar mulheres e colocar destaque pra elas. Realmente é culturalmente complicado, uma barreira que a gente vai ter que lutar pra cada vez mais crescer.

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Pode compartilhar um momento memorável ou desafiador que marcou a sua carreira?

[Ju Cavalcanti]

Eu acho que o momento mais desafiador da minha carreira foi justamente esse ano do Noronha Weekend que teve uma chuva muito forte e que a gente teve que reestruturar o evento no terceiro ano. De mudar local, mudar data, porque por mais que a gente não tinha controle das coisas, do microclima que é uma ilha e a gente tá trabalhando em uma área de preservação ambiental, o cliente ele não tem muito essa percepção. Então isso foi uma coisa que, primeiro no dia, no weekend mesmo, que choveu demais, já foi uma luta, porque estava todo mundo exausto, a gente tinha uma equipe quase 150 pessoas pra gerir e tava todo mundo muito cansado, com medo, preocupado e eu tive que ser muito forte nesse momento pra poder dar estabilidade pra equipe e conseguir fazer a entrega. E essa questão de fazer esse rebranding logo no terceiro ano pra poder as pessoas terem uma outras experiência.

[Ingresse]

Quais conselhos você daria para outras mulheres que querem trabalhar e se desenvolver na área?

[Eli Iwasa]

Meu conselho pra outras mulheres é sempre ser fiel à si mesma, aos seus valores, ao que você acredita e não dar muito ouvido para as outras pessoas. A gente sempre sabe o que é melhor pra cada uma de nós.

[Ju Cavalcanti]

Eu acho que se qualificar é muito importante, ter personalidade e principalmente persistência, porque a gente é muito mais testada, então pra gente crescer precisamos muitas vezes nos impor.


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